Muitas
pessoas, ao se perceberem não monogâmicas, entram em crise. Se sentem culpadas,
erradas, excluídas, sozinhas. Tendem a pensar que são os únicos indivíduos no mundo que não conseguiram se adaptar
aos padrões considerados naturais e, portanto, "normais" da espécie
humana; que devem ter algum distúrbio, doença ou algo de muito ruim, imoral.
Todo esse sofrimento é causado por vivermos em uma sociedade em que a instituição
da monogamia foi estabelecida como o único modelo
correto e aceitável de relacionamento afetivo/sexual. Seguindo por esse
raciocínio, qualquer pensamento e/ou atitude que fuja da prática sexual
consolidada pela moral vigente (hetero, apenas entre duas pessoas, realizada
com "amor" e,
preferencialmente dentro de um relacionamento afetivo estável e validado
socialmente), é hedionda, repulsiva, vergonhosa, “coisa de gente
pervertida”, que não merece
respeito ou consideração.
Assim,
não é de se admirar que vários
indivíduos que não se identificam com a monogamia, continuem insistindo em
buscar relacionamentos nesse molde. Escolhem a mentira, a máscara da
“normalidade” e se esforçam para estancar o conflito de não se sentirem
adequados ao mesmo tempo que lutam por tal adequação – fonte de enorme
sofrimento subjetivo.
Contudo, alguns de nós começamos a compreender que a única
alternativa que temos para evitar tal sofrimento é conquistar aceitação e
respeito (quem sabe compreensão), é deixar para trás a tortura perpétua de não
ser o que se é, ou seja, romper com a “normalidade”, assumir uma identidade não
monogâmica, lutar pelo direito de sentir, desejar, se relacionar com quantas
pessoas quiser, mesmo que tal ruptura com os padrões social e moralmente
estabelecidos signifique viver à
margem da sociedade.
Sharlenn