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segunda-feira, 28 de abril de 2014

Compersão


Minha vida em geral não anda fácil, aliás, nunca foi. Mas, ultimamente aconteceu algo que tem feito com que meus dias se tornem mais “vivos”, mais leves e agradáveis de modo geral. Quem me conhece ou acompanha o blog, sabe que estou “policasada” - na falta de um termo melhor - com o meu querido Rafael.
O nosso relacionamento é REALMENTE maravilhoso! E isso, sem idealizações mesmo, conheço BEM de perto os defeitos do Rafa e ele os meus, mas somos tão compatíveis, tão companheiros, amigos- confidentes, amantes, companheiros de luta, etc, etc. , que nao consigo me imaginar tendo uma relação mais prazerosa ou saudável do que essa. Sempre gostei da possibilidade de existirem outras pessoas por aí que me despertassem tanto amor/ amizade, mas por mais que tenha tido alguns relacionamentos legais, nunca chegou nem perto do que eu tenho em casa – o que de certa forma, mesmo sendo escroto da minha parte, me "frustra".
Alem, desse “problema” , eu tinha outro muito chato...que era o de nao conseguir sentir compersão (ficar feliz pela pessoa que você ama também estar feliz / ser amada por outrxs). Eu até conseguia sentir amizade pelas meninas com que o Rafa se relacionava (e algumas delas se tornaram verdadeiramente amigas) ou então me sentia indiferente e, algumas vezes, até mal.
Mas agora, está acontecendo algo lindo! Quero compartilhar com o mundo!! Eu não só estou me relacionando, de fato, pela primeira vez com uma mulher na vida (por mais que já fosse bi há anos), como ela e o Rafa também estão tendo um afair! E o curioso... ISSO ESTÁ ME DEIXANDO TÃO FELIZ! Sei que o que os dois sentem por mim é profundo e verdadeiro, sei também que o que começa a surgir entre eles é sincero e eu tenho dado toda força e incentivo possível, aconselho os dois (quando me pedem opinião), elogio sempre um para o outro, acho fofas as mensagens públicas e carinhosas que ambos se “presenteiam”. E, juro, que quero muito que sejam felizes como eu sou com eles! <3
E então me passa pela cabeça mais uma vez aquela odiosa frase “polis não amam de verdade”... se isso não é amor, é amor sem amarras, sem posse, sem insegurança, sem egoísmo, O QUE É???
Vou ser sincera, achei que talvez eu fosse limitada demais, devido a minha “pré-história” monogâmica para sentir um sentimento tão novo, mas não! Eu sinto e amo sentir e faz todo sentido com o que acredito e defendo racionalmente, ou seja, é realmente um marco na minha vida!
Outra coisa que reafirmei mais uma vez através dessa experiência é que nossos sentimentos SÃO CONDICIONADOS  pelo nosso comportamento, pelo modo como vivemos e enxergamos o mundinho que nos cerca. Acho completamente plausível que em, maior ou menos escala, pessoas que se proponham a VIVER, experimentar o Poliamor, venham a mudar radicalmente a forma como sentem e  pensam; e digo isso nao só em termos de relacionamento, mas em um âmbito existencial mesmo.
Não somos seres “naturais”, não existe essência humana, galera! Somos culturais, somos formados a partir do meio em que estamos inseridos e, por isso, podemos nos tornar a pior espécie que já existiu no planeta, como também a melhor! A História é dialética, e eu quero apostar na segunda opção. A verdade é que: PODEMOS SER MUITO MELHORES DO QUE SOMOS!

SHARLENN

14 comentários:

  1. fofos...
    cada história é uma, mas sinto que quando existe amizade, sinceridade e cumplicidade, tudo fica mais fácil, inclusive os problemas... eles vão sempre existir.. a reprogramação nesse mundo que vivemos não é fácil.. infelizmente não depende só de nós, porque somos frutos do meio... mais amor, menos dor... isso é felicidade. sorte para vocês. beijos

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  2. Acho que é sempre mais fácil sentir compersão quando somos nós o centro da situação. É mais difícil sentir compersão quando a pessoa com quem estamos está com outra e essa outra pessoa não está connosco - nós não somos o centro. Eu nunca estive na posição do centro, mas já senti compersão embora não seja com toda a gente. Muitas vezes esse sentimento não surge.

    Gostei do texto, felicidades para vocês :)

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    1. Concordo com você que é bem mais fácil sentir compersão quando todas as partes interagem, talvez porque não haja a sombra de se sentir "excluído". Como eu disse, eu ainda sou amiga de ex namoradas do meu "polimarido" (que namoraram com ele enquanto estávamos juntos também), eu gostava delas (ainda gosto rs), mas não sentia felicidade por ele estar com elas. Por isso disse que é a primeira vez na vida que me sinto assim! :D
      Mas acho que não se trata, no meu caso, de me sentir o "centro", mas a afinidade e afetividade que rola entre todas as partes. Eu ainda precisarei de outras experiências para ter certeza se é assim que funciona comigo, mas, por enquanto, está tudo ótimo!
      Obrigada pelo elogio ao texto e mais ainda pelos votos de felicidade. ˆˆ

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  3. Que sentimento bom quando parece que alguém é capaz de entender e expressar o que a gente sente!

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  4. Quanto a dizer que não existe essência humana, um livro em especial serviu de pontapé para minhas ideias atualmente. Eu o recomendo na qualidade de um dos melhores livro que já li: Tábula Rasa - Steven Pinker,

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    1. Obrigada pela indicação do livro. Não conheço, mas vou colocar na lista de prioridades! A minha questão da negação de uma essência humana segue mais um viés filosófico mesmo - "A existência precede a essência" e também por forte influência do materialismo dialético.

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    2. Minhas influências são de A. Camus e Sartre até Hobsbawn e Marx e Engels... e mesmo assim eu vaticino: o "Tábula Rasa" foi o pontapé para eu começar a pensar mais seriamente o debate sobre essência e existência.

      Tenho certeza de que será uma surpreendente leitura! :)

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  5. Tenho que percorrer uma estrada grande antes de atingir a compersão. Tô no estágio embrionário de viver um relacionamento poliamoroso. Gostei de ler seus textos. Tirei algumas dúvidas. Ao que parece não há receita. O que deve haver é a compreensão de que ninguém é posse de ninguém e que se estão juntos é porque existe o amor e o desejo de permanecer lado a lado.
    Esse lance de partilhar o tempo com outros(as) é que me pega. Às vezes vc pode querer estar com aquela determinada pessoa e ela não está ali. Sei que é um pensamento bobo, mas isso mexe comigo. Acessar o inacessível num dado momento. Tenho tanto a aprender ainda... obrigado.

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    1. C.J. a maioria de nós, que pretende percorrer, como você mencionou, a "estrada" de viver um relacionamento sem exclusividade afetiva/sexual, sem "posse", buscando minimizar o ciúme e desenvolver compersão, passamos por momentos de dúvidas e angústias. Isso é tão comum! Fomos criados em um padrão de relacionamento monogâmico, com todas as regrinhas rígidas e prontas, agora estamos tentando, passo a passo, desconstruir esse arcabouço de valores e condicionamentos...é difícil mesmo. Mas também é libertador! :D Para mim e para as pessoas que convivo e acompanho, têm sido uma experiência muito enriquecedora em vários níveis. Quando começamos a questionar algo, é como uma avalanche... acabamos questionando todo o sistema que sustenta a sociedade atual.
      Quanto à questão do tempo que mencionou, também passei por isso. Entendo você perfeitamente. E isso, ao meu ver não é ciúmes ou egoísmo, é vontade de estar junto de quem se ama. Para resolver isso você pode, junto a(os) sx(s) parceirx(s) estabelecer regras que dêem conta dessa necessidade específica. No meu caso, a regra que optamos foi buscar sempre estabelecer relações, mesmo que apenas de amizade, com os relacionamentos dx(s) nossx(s) parceirx(s). Assim, ninguém se sente excluído e o tempo é otimizado! ;) Mas isso é algo que deu certo para mim, talvez no seu caso, outra regra seja mais viável...o que recomendo é diálogo sempre!
      Abraço!

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  6. Você é incrível!
    Seu texto é brilhante, vejo vc falando em cada linha :-)
    Te amo!
    Saudades!

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  7. É muita honra pra mim receber tamanhos elogios Flavinha, ainda mais vindos de você. Obrigada, não só por me respeitar, por ser a amiga incrível de sempre, como também por me apoiar em todos os momentos. Muitas saudades!

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