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quarta-feira, 8 de junho de 2016

Poliamor e ciúmes.

Existe CIÚME nas relações poliamorosas?

Resolvi fazer esse texto pois, ultimamente muitas pessoas têm me procurado com dúvidas sobre o ciúmes: se polis sentem ciúme, se é possível administra-lo? Como? Etc.

Então, fundamentando minha reflexão em experiência pessoal, na vivência de meus parceiros, de meus amigos e amigas e nos relatos que tenho ouvido por mais de cinco anos, afirmo que, em geral, poliamoristas têm ciúmes, sim. Polis têm ciúmes pelo mesmo motivo que os demais, ou seja, por terem sido criados e educados em uma sociedade que valoriza o amor romântico ("felizes para sempre", "príncipe encantado"), onde o ciúmes é compreendido como "prova de amor" ou ao menos "parte essencial do amor".



Nesse sentido, muitos monogâmicos, ainda consideram que sentir ciúmes e se saber objeto do mesmo pelo ser amado, atesta um "sentimento verdadeiro" entre eles. Pois bem, aí entra uma grande diferença entre monos e polis. Enquanto a monogamia tende a valorizar e estimar o ciúmes (e atrelados a ele outro sentimentos como "posse", "apego", "competição"), o poliamorista entende que o ciúmes nada mais é do que uma construção social (e não natural) causadora de muitos danos e sofrimento, nada vem de positivo desse sentimento, nem para quem o sente nem para quem é alvo deste, pois o ciúme é vinculado à forte angústia e ansiedade: medo de ser trocado, medo de perder, medo de ser comparado e diminuído, de não ser bom o suficiente... ou simplesmente - e isso é mais comum entre os homens devido ao machismo nosso de cada dia - a concepção errônea de que a pessoa amada se configura sua posse e, portanto, tudo o que ela pode amar e desejar, é você. Isso quer dizer que tratamos o ser amado como "coisa" nossa, objeto que nos pertence e não como indivíduo com pensamentos e vontades próprias. Assim, como o poliamorista escolhe amar sem exclusividade, com igualdade, consenso e honestidade, o ciúme perde o pedestal que a monogamia lhe dá, ele deixa de fazer sentido, pois, além de ser entendido como um sentimento triste e prejudicial para todos os envolvidos, no poliamor, não há necessidade de competição, ninguém é trocado, os amores somam e não se excluem, cada pessoa é valorizada por quem ela é e não em comparação, além disso, não entendemos o outro como "coisa" que nos pertence, mas como um ser humano livre e completo com total direito aos seus próprios desejos e sentimentos. E é assim que o(s) amamos, como seres livres que só estão do nosso lado por vontade própria e nunca por pressão, acomodação, costume, ou qualquer outra coisa.




Porém, isso quer dizer que polis não são suscetíveis ao ciúmes, medo e inseguranças? Claro que não! Mas a forma como vemos tais sentimentos nos ajuda a trabalhá-los para controlar, minimizar e muitas vezes até extinguir esses tristes condicionamentos. 

Não aceitar como "normal" ou "natural" emoções que só nos fazem sofrer é o primeiro passo nessa jornada, questionar o porquê de nossos medos e inseguranças é outro, por fim, ter determinação para se alcançar o que consideramos o ideal consolida nosso objetivo. Ainda um último ponto interessante de destacar, é que os poliamoristas em geral almejam não só a eliminação do ciúmes como a sua substituição pelo sentimento de COMPERSÃO que significa "sentir-se feliz por seu amor estar feliz também em outro relacionamento, também com outro amor" , ou seja, a felicidade de quem se ama deve ser mais importante que nosso desejo egoísta de ter o amor, o corpo, a atenção e o tempo de quem se ama só pra gente, se amar é querer bem, a compersão seria o sentimento máximo de amor.




segunda-feira, 25 de abril de 2016

Alguns esclarecimentos a respeito do Poliamor.

Então, sobre o que é POLIAMOR e os erros/confusões mais comuns:

1- Quem é poliamorista? Quem se identifica com a possibilidade de se envolver afetivamente e manter relacionamentos estáveis, igualitários e consensuais com mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Ou seja, NÃO é preciso estar em um relacionamento poli para ser poli, assim como não é preciso estar namorando com uma menina e um menino ao mesmo tempo para ser bissexual.

" Sou H mas quero ter um relacionamento com duas M, mas não admito que elas tenham a possibilidade de se envolver com outras pessoas. Sou poli?" NÃO, você é machista!

2- Poliamor não se resume a relação em grupo (trisal, quadrisal, etc). Existem várias possibilidades de relacionamentos poli, uma delas é o de relações paralelas (que podem ser de vários formatos. V, W, etc, Ou seja, meus relacionamentos não precisam se relacionar entre si e eu não preciso me envolver com os relacionamentos de meus parceires.

3- Para ser poli é necessário que só se mantenha vínculos afetivos? NÂO! Eu posso me identificar como poli, ter um relacionamento, mas só estar no momento afim de ficar (ou de sexo sem compromisso) com outras pessoas além de meu parceire. O importante aqui é não restringir seu perceire a sua escolha e ter em mente a POSSIBILIDADE de acabar se envolvendo com o/a ficante esporádico. Poliamor fala de possibilidade, não de necessidade de se envolver afetivamente.

4- O poliamor comporta configurações de relacionamentos fechadas e abertas:
- fechada- quando só se pode ter envolvimento afetivo e sexual com as pessoas do seu grupo de relacionamento.
- aberta- quando você e seus relacionamentos podem se envolver sexual e afetivamente com quem quiserem.

5- Cada relacionamento poli estabelece suas próprias regras que devem visar dar conta das necessidades e preocupações de todos os envolvidos. As únicas "regras" pré- estabelecidas que existem no poliamor são:
- Não exclusividade afetiva/sexual entre duas pessoas (mas pode haver exclusividade em um trisal, quadrisal, etc)
- Possibilidade de igualdade entre todas as partes: todas as partes envolvidas a priori possuem os mesmos direitos e responsabilidades, porém essa igualdade não é obrigatória. Ex: se meu parceiro está em outro relacionamento ou não sou obrigada a tb estar, mas sempre terei a possibilidade de.
- Consensualidade entre todes: se uma das partes não está ciente das outras, isso NÃO é poliamor, é traição. Ou então se acorda que ninguém precisa falar de seus outros relacionamentos, porém, se pressupõem que eles existem ou podem existir.

Dúvidas? Comentários?

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Abrindo a relação


Ultimamente muitas pessoas vieram me questionar sobre o processo de se abrir uma relação monogâmica. Como passar de uma relação que sempre foi mono para uma sem exclusividade?
Bem, obviamente não existe uma receita pronta para isso e cada casal deve levar em conta as particularidades da sua própria relação para começar a trilhar esse caminho. Contudo, acho que existem algumas questões importantes que podem/devem ser objeto de reflexão para todos que se propõem esse processo, a saber:

- Analisar a real motivação do casal para abrir o relacionamento: se o motivo for "salvar a relação", desaconselho em absoluto, a probabilidade de a relação acabar de vez é muito maior nesse caso. Os obstáculos que encontramos ao nos abrirmos para não monogamia não são simples nem fáceis, o dialogo, o respeito e a compreensão mútua serão essenciais nesse caminho. Se tais características já não fazem parte da relação mono, não faz sentido achar que elas surgirão gratuitamente nesse momento.



- A escolha pela não monogamia precisa ser conjunta e consciente. Se seu/ sua parceire não está disposto a sequer tentar (por motivos próprios e não para agradar você) a não monogamia, não o/a obrigue a esse processo. A relação não se faz sozinha, é uma construção entre duas ou mais pessoas, por isso, todas as decisões relativas à mesma, devem ser tomadas por todes os/as envolvides, o que não quer dizer que a parte interessada na não monogamia deva se conformar em viver de uma maneira que não a satisfaz. Acho justo tentar o convencimento a partir de uma crítica à instituição e à naturalização da monogamia como única opção válida e/ou legítima para se viver o amor e as relações. Um diálogo sincero, respeitoso, que leve em consideração o sentimento do outre, pode surtir um efeito positivo. Se, ainda assim, as partes não chegarem a um consenso, não vejo como continuar essa relação sem que alguém não acabe frustrado, incomodado, subjugado em suas vontades/ necessidades.


- Acordos são necessários. Abrir uma relação não significa deixar de ter "regras" no relacionamento, até decidir não ter acordo já é um acordo que deve ser tomado por ambos. Ter um relacionamento não mono não é deixar de se importar com o/a outre e viver focado em seus desejos e vontades, é entender que, apesar de você amar e querer estar junto ao seu/sua parceire, o desejo e o afeto não são limitados e que viver mais de uma relação não implica negligenciar sua relação primária. Além disso, eu pessoalmente aconselho que os acordos sejam estabelecidos visando identificar os limites das pessoas envolvidas: eu posso aceitar que meu amor tenha um outro amor, mas posso preferir não conhecer ou ter contato com essa nova pessoa, ou então, pelo contrário, eu posso me sentir mais segura se souber quem é, se conhecer; eu posso não ver problemas em meu amor ficar com outras pessoas na minha frente pois entendo que é um exercício de sua liberdade que em nada irá me prejudicar ou eu posso não gostar de que isso aconteça por sentir ciúme ou qualquer outro tipo de incômodo; eu posso preferir ter prioridade com minha relação mais antiga por me sentir mais segura dessa forma ou posso não querer priorizar nenhuma relação por considerar que cada relação tem seu valor e não deve ser equiparada...enfim, as possibilidades de acordos são inúmeras e devem corresponder às necessidades específicas e particulares da relação em questão.


- As possibilidades e regras da relação valem para todos. Infelizmente tenho percebido que, com o aumento da divulgação do poliamor através das diversas mídias, muitos homens têm visto na ideia de um relacionamento não mono a oportunidade de "trair com consentimento". Serei bem clara e direta: se você, homem, quer poder ficar com "todo mundo", mas não concebe que sua parceira tenha essa mesma possibilidade, você não está falando de poliamor, você está usando o nome Poliamor (que é um modo de se relacionar que exige consensualidade e igualdade entre as partes) para exercer seu machismo. O Poliamor, a meu ver, deve servir para empoderar as mulheres em seus relacionamentos, que, via de regra, sempre foram mais favoráveis aos homens e não para submetê-las ainda mais a uma condição de servilismo.

Espero ter contribuído um pouquinho para a reflexão das pessoas que vieram me procurar por conta dessa questão. Se ainda assim, surgirem dúvidas, postem nos comentários que responderei assim que possível. :)