Páginas

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Responsabilidade afetiva nas relações poliamorosas

Como é sabido, o Poliamor é um modelo de relacionamento não monogâmico que, apesar de abarcar inúmeros arranjos possíveis de relação (fechado X aberto; com prioridade X sem prioridade; em grupo X paralelo, etc.), possui três características básicas comuns: não exclusividade sexual e/ou afetiva, consensualidade e igualdade entre todas as partes. Contudo, muitos parecem ignorar as duas últimas características, limitando-se a viver relacionamentos sem exclusividade, porém sem RESPONSABILIDADE com os demais. Nesse contexto, precisamos destacar que Poliamor NÃO deve ser apropriado como uma maneira de legitimar a irresponsabilidade com o/a(s) parceiro/a(s), como uma forma de oficializar a “traição”, de justificar imaturidade emocional e a falta de comprometimento, companheirismo e cuidado com o outro. Pra começo de conversa, se alguém se propõe a viver uma RELAÇÃO (independente do tipo que for), precisa entender que esta é constituída de pelo menos mais uma outra pessoa, e essa pessoa ou pessoas possuem demandas, desejos, traumas e condições específicas de gênero, orientação sexual, raça e classe social que vão influenciar em como ela vai lidar com os desafios de se viver uma relação sem exclusividade em meio a uma sociedade mono e heteronormativa, machista, racista, capitalista, etc. Tais especificidades precisam ser levadas em conta na dinâmica do relacionamento e é aqui que entra a questão da tão polêmica RESPONSABILIDADE AFETIVA.

Dentro do meio Não-Monogâmico, tem sido muito comum ouvir críticas sobre ciúmes e insegurança como se tais sentimentos fossem atestado de pessoa “menos livre”. Há um discurso corrente de liberdade liberal onde cada um é unicamente responsável por si mesmo e “livre” para fazer o que desejar. Nesse sentido, se alguém se incomoda com certas atitudes e comportamento de seu/sua (s) parceiro/a(s), a consequência é a crítica e o julgamento, a taxação de pouco “desconstruído/a” e, muito comum quando se tratam de mulheres, de “louca ciumenta”. Dessa forma, a pessoa em questão não apenas sofre por sentir todo o incômodo advindo de uma socialização que lhe ensinou que esses sentimentos eram “naturais” e inerentes ao amor, como sofre por se ver perdida e desamparada para lidar com toda a angústia de querer viver o poliamor mas não se sentir “evoluída” o suficiente para concretizar tal querer. É nesse momento que muitos (em especial mulheres por questões óbvias de machismo) desistem do projeto de construir relações polis e, com sentimento de fracasso, retornam à monogamia que, em geral, também não se apresenta como uma opção satisfatória e potencializadora (mas é a única que lhes cabe por sua pouca “evolução” emocional).

E qual seria o outro caminho possível nesses casos? Defendemos a responsabilidade afetiva nas relações poliamorosas como uma maneira saudável de lidar com a questão. Sendo dessa forma, em uma situação de ciúmes, desconforto ou insegurança, o diálogo entre as partes envolvidas é a solução-chave. À partir do diálogo franco e respeitoso, é possível estabelecer acordos que dêem conta dos problemas acima levantados. A função dos acordos é justamente facilitar o processo de desconstrução dos sentimentos introjetados pela monormatividade e auxiliar na construção da autonomia individual de todas as partes do relacionamento. Ou seja, o acordo é a ponte entre o real e o ideal (lembrando aqui que o ideal é sempre o modelo que parece melhor para cada indivíduo), por isso deve ser flexível e mutável, e com o objetivo claro de não servir como bengala eterna de uma dependência emocional que aprisiona e sufoca o/a(s) parceiro/a(s) em suas demandas nunca resolvidas.

As pessoas, no entanto, precisam entender que não é porque o relacionamento não é monogâmico que não é relação, que não há um vínculo estável e profundo entre duas ou mais pessoas e que, portanto, “fazer o que quiser” sem se preocuparem como os seus atos irão afetar o(s)/a(s) parceiro/a(s) é agir como SOLTEIRO/A. Dessa forma, se o que se almeja é a falta de compromisso, de responsabilidade e de cuidado com o outro, o que se quer é a solteirice (e não tem nada de errado nisso!), que então esse sujeito vá viver livre e solto, mas sem ludibriar ou usar ninguém.

Outro ponto importante a destacar é a confusão recorrente entre autonomia e individualismo/egoísmo. Ser autônomo é ser capaz de gerir o máximo possível a própria vida de modo que as relações afetivas venham para potencializar (e não dar sentido!) a existência dos indivíduos envolvidos, é ser capaz de alcançar felicidade estando ou não em relacionamentos afetivos/sexuais, é ser capaz de lidar com a dor do término sem buscar logo outra pessoa para “tapar o buraco” da carência, é ter vida prazerosa e produtiva para além do/da(s) parceiro/a(s), ou seja, é o contrário da DEPENDÊNCIA AFETIVA. Contudo, NÃO é negligência com os sentimentos do outro, não é falta de empatia com as necessidades alheias, de comprometimento com a relação; tampouco significa que, para ser autônomos, precisamos lidar sozinhos com todos os problemas, frustrações, anseios e receios. Assim, autonomia não deve ser confundida com desamparo emocional em nenhum sentido, para nenhuma das partes.

Há um termo utilizado no anarquismo moderno que podemos aplicar às relações poliamorosas que é o da AUTONOMIA LIBERTÁRIA, esse conceito de autonomia implica que o caminho para se conquistar a autonomia individual deva ser percorrido de forma coletiva. Portanto, a dedicação e o empenho para se alcançar, seja uma sociedade sem hierarquia e opressão, seja um relacionamento sem dependência afetiva, deve ser colaborativo, em conjunto.

Já o egoísmo se manifesta nos indivíduos que em geral só se importam com suas próprias vontades, necessidades e limites, que não buscam na relação uma oportunidade de troca e construção potencializadora, mas sim uma maneira de satisfazer suas necessidades individuais, seu egocentrismo e/ou carência. Para os egoístas, as pessoas apenas suprem “buracos” - alguém para sexo estável, alguém para cumprir a função social de esposa/marido, mãe/pai de seus filhos, para reclamar da vida e fazer companhia nos dias frios - não importa que “buraco” seja esse, mas é sempre apenas suprir uma (ou mais) falta, nunca para somar e compartilhar.

Desse modo, defendo que o ideal das relações não-monogâmicas (e monogâmicas, por que não?) seja o da autonomia libertária, onde todos os indivíduos tenham plena consciência de que o amadurecimento e a consequente independência emocional é menos traumática e mais eficiente se realizada em parceria(s). Essa, em minha opinião, é a única forma em que todos saem ganhando e, com certeza, a forma mais saudável de unir anseios individuais e segurança emocional, liberdade e estabilidade afetiva.

domingo, 2 de abril de 2017

OS ACORDOS NAS RELAÇÕES POLIAMOROSAS

Resolvi escrever este post, pois tenho visto muita gente desconsiderando ou mesmo maldizendo a necessidade de acordos nas relações poliamorosas. Bem, eu não sou detentora de nenhuma "verdade", mas venho aqui dar o meu pitaco sobre o assunto.
Para começo de conversa, acho muito pueril (e até prejudicial) a ideia de uma liberdade plena nas relações polis, primeiro porque não existe liberdade plena em nada, isso é uma utopia, uma idealização que não tem como ser concretizada (aliás, muitas pessoas defendem "liberdade" sem nem saber conceituá-la); segundo porque, querendo ou não, TODOS fomos educados e construídos em uma sociedade mononormativa e adepta do amor romântico, ou seja, muito do que sentimos - mesmo que já tenhamos desconstruído o pensamento - é ainda vinculado à essa cultura, e sentir diferente não é só questão de escolha, mas sim de uma vida de desconstrução e experiências positivas com um novo modelo de amor, de afetividade, de sexualidade, de relações interpessoais. Assim, o que tenho visto na prática acontecer com muitas pessoas é que, apesar da vontade de viverem o poliamor, se frustram por não conseguirem lidar com essa "liberdade liberal" que muitos pregam (mas poucos vivem de fato) e acabam voltando para a monogamia ou desistindo de estabelecerem qualquer tipo de relação profunda e estável.

Dessa forma, o que EU vejo como mais saudável e benéfico, é sim o estabelecimento de acordos que dêem conta do binômio necessidade X limite das pessoas envolvidas. A desconstrução de um parâmetro de amor e relacionamento que nos foi passado como correto e único desde sempre não será desfeito de uma hora para outra, nem tampouco apenas por "força de vontade". Como dito acima, é necessário SENTIR diferente. É necessário que estejamos confortáveis e "seguros" com nossas relações e assim vamos dando os passos rumo a uma ideia de amor e a um modo de relacionamento mais potencializador, agregador e libertário (não liberal), e é dessa maneira que os acordos vão se modificando e se tornando mais fluidos (não por obrigação, mas por fazer sentido dentro da experiência concreta) e talvez em algum momento possam até se tornar supérfluos (ou não, e tudo bem!). Se conseguirmos consolidar agora um caminho rumo a essa nova forma de sentir, pode ser que as próximas gerações jé cresçam em um mundo emocional e sexualmente mais saudável e libertário, mas tudo vai depender da forma como agimos agora.



E duas coisas muito importantes sobre isso a pontuar:
1- acordos PRECISAM ser consensuais, flexíveis e mutáveis: não devemos fazer acordos para permanecermos eternamente em nossa zona de conforto emocional, mas sim para avançarmos com cuidado e responsabilidade no desatamento de todos os laços mononormativos e do amor romântico.
2- Se identificar com o Poliamor não faz de ninguém mais "evoluído". Somos ainda as mesmas pessoas cheias de neuroses, conflitos internos, contradições e idealizações, apenas com desejo de viver o amor e as relações de outra maneira. E vamos ter que nos esforçar muito para alcançar nossos objetivos sem nos prejudicar ou prejudicar o outro.
Agora, se você quer viver sem nenhuma regra, responsabilidade afetiva ou comprometimento, é fácil: é só ser solteiro/a. Se de fato quer viver o Poliamor, bora entender o que é, buscar o autoconhecimento e muita determinação para desconstrução e diálogo permanentes com o(s) parceiro(s). ;)

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Poliamor e ciúmes.

Existe CIÚME nas relações poliamorosas?

Resolvi fazer esse texto pois, ultimamente muitas pessoas têm me procurado com dúvidas sobre o ciúmes: se polis sentem ciúme, se é possível administra-lo? Como? Etc.

Então, fundamentando minha reflexão em experiência pessoal, na vivência de meus parceiros, de meus amigos e amigas e nos relatos que tenho ouvido por mais de cinco anos, afirmo que, em geral, poliamoristas têm ciúmes, sim. Polis têm ciúmes pelo mesmo motivo que os demais, ou seja, por terem sido criados e educados em uma sociedade que valoriza o amor romântico ("felizes para sempre", "príncipe encantado"), onde o ciúmes é compreendido como "prova de amor" ou ao menos "parte essencial do amor".



Nesse sentido, muitos monogâmicos, ainda consideram que sentir ciúmes e se saber objeto do mesmo pelo ser amado, atesta um "sentimento verdadeiro" entre eles. Pois bem, aí entra uma grande diferença entre monos e polis. Enquanto a monogamia tende a valorizar e estimar o ciúmes (e atrelados a ele outro sentimentos como "posse", "apego", "competição"), o poliamorista entende que o ciúmes nada mais é do que uma construção social (e não natural) causadora de muitos danos e sofrimento, nada vem de positivo desse sentimento, nem para quem o sente nem para quem é alvo deste, pois o ciúme é vinculado à forte angústia e ansiedade: medo de ser trocado, medo de perder, medo de ser comparado e diminuído, de não ser bom o suficiente... ou simplesmente - e isso é mais comum entre os homens devido ao machismo nosso de cada dia - a concepção errônea de que a pessoa amada se configura sua posse e, portanto, tudo o que ela pode amar e desejar, é você. Isso quer dizer que tratamos o ser amado como "coisa" nossa, objeto que nos pertence e não como indivíduo com pensamentos e vontades próprias. Assim, como o poliamorista escolhe amar sem exclusividade, com igualdade, consenso e honestidade, o ciúme perde o pedestal que a monogamia lhe dá, ele deixa de fazer sentido, pois, além de ser entendido como um sentimento triste e prejudicial para todos os envolvidos, no poliamor, não há necessidade de competição, ninguém é trocado, os amores somam e não se excluem, cada pessoa é valorizada por quem ela é e não em comparação, além disso, não entendemos o outro como "coisa" que nos pertence, mas como um ser humano livre e completo com total direito aos seus próprios desejos e sentimentos. E é assim que o(s) amamos, como seres livres que só estão do nosso lado por vontade própria e nunca por pressão, acomodação, costume, ou qualquer outra coisa.




Porém, isso quer dizer que polis não são suscetíveis ao ciúmes, medo e inseguranças? Claro que não! Mas a forma como vemos tais sentimentos nos ajuda a trabalhá-los para controlar, minimizar e muitas vezes até extinguir esses tristes condicionamentos. 

Não aceitar como "normal" ou "natural" emoções que só nos fazem sofrer é o primeiro passo nessa jornada, questionar o porquê de nossos medos e inseguranças é outro, por fim, ter determinação para se alcançar o que consideramos o ideal consolida nosso objetivo. Ainda um último ponto interessante de destacar, é que os poliamoristas em geral almejam não só a eliminação do ciúmes como a sua substituição pelo sentimento de COMPERSÃO que significa "sentir-se feliz por seu amor estar feliz também em outro relacionamento, também com outro amor" , ou seja, a felicidade de quem se ama deve ser mais importante que nosso desejo egoísta de ter o amor, o corpo, a atenção e o tempo de quem se ama só pra gente, se amar é querer bem, a compersão seria o sentimento máximo de amor.




segunda-feira, 25 de abril de 2016

Alguns esclarecimentos a respeito do Poliamor.

Então, sobre o que é POLIAMOR e os erros/confusões mais comuns:

1- Quem é poliamorista? Quem se identifica com a possibilidade de se envolver afetivamente e manter relacionamentos estáveis, igualitários e consensuais com mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Ou seja, NÃO é preciso estar em um relacionamento poli para ser poli, assim como não é preciso estar namorando com uma menina e um menino ao mesmo tempo para ser bissexual.

" Sou H mas quero ter um relacionamento com duas M, mas não admito que elas tenham a possibilidade de se envolver com outras pessoas. Sou poli?" NÃO, você é machista!

2- Poliamor não se resume a relação em grupo (trisal, quadrisal, etc). Existem várias possibilidades de relacionamentos poli, uma delas é o de relações paralelas (que podem ser de vários formatos. V, W, etc, Ou seja, meus relacionamentos não precisam se relacionar entre si e eu não preciso me envolver com os relacionamentos de meus parceires.

3- Para ser poli é necessário que só se mantenha vínculos afetivos? NÂO! Eu posso me identificar como poli, ter um relacionamento, mas só estar no momento afim de ficar (ou de sexo sem compromisso) com outras pessoas além de meu parceire. O importante aqui é não restringir seu perceire a sua escolha e ter em mente a POSSIBILIDADE de acabar se envolvendo com o/a ficante esporádico. Poliamor fala de possibilidade, não de necessidade de se envolver afetivamente.

4- O poliamor comporta configurações de relacionamentos fechadas e abertas:
- fechada- quando só se pode ter envolvimento afetivo e sexual com as pessoas do seu grupo de relacionamento.
- aberta- quando você e seus relacionamentos podem se envolver sexual e afetivamente com quem quiserem.

5- Cada relacionamento poli estabelece suas próprias regras que devem visar dar conta das necessidades e preocupações de todos os envolvidos. As únicas "regras" pré- estabelecidas que existem no poliamor são:
- Não exclusividade afetiva/sexual entre duas pessoas (mas pode haver exclusividade em um trisal, quadrisal, etc)
- Possibilidade de igualdade entre todas as partes: todas as partes envolvidas a priori possuem os mesmos direitos e responsabilidades, porém essa igualdade não é obrigatória. Ex: se meu parceiro está em outro relacionamento ou não sou obrigada a tb estar, mas sempre terei a possibilidade de.
- Consensualidade entre todes: se uma das partes não está ciente das outras, isso NÃO é poliamor, é traição. Ou então se acorda que ninguém precisa falar de seus outros relacionamentos, porém, se pressupõem que eles existem ou podem existir.

Dúvidas? Comentários?

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Abrindo a relação


Ultimamente muitas pessoas vieram me questionar sobre o processo de se abrir uma relação monogâmica. Como passar de uma relação que sempre foi mono para uma sem exclusividade?
Bem, obviamente não existe uma receita pronta para isso e cada casal deve levar em conta as particularidades da sua própria relação para começar a trilhar esse caminho. Contudo, acho que existem algumas questões importantes que podem/devem ser objeto de reflexão para todos que se propõem esse processo, a saber:

- Analisar a real motivação do casal para abrir o relacionamento: se o motivo for "salvar a relação", desaconselho em absoluto, a probabilidade de a relação acabar de vez é muito maior nesse caso. Os obstáculos que encontramos ao nos abrirmos para não monogamia não são simples nem fáceis, o dialogo, o respeito e a compreensão mútua serão essenciais nesse caminho. Se tais características já não fazem parte da relação mono, não faz sentido achar que elas surgirão gratuitamente nesse momento.



- A escolha pela não monogamia precisa ser conjunta e consciente. Se seu/ sua parceire não está disposto a sequer tentar (por motivos próprios e não para agradar você) a não monogamia, não o/a obrigue a esse processo. A relação não se faz sozinha, é uma construção entre duas ou mais pessoas, por isso, todas as decisões relativas à mesma, devem ser tomadas por todes os/as envolvides, o que não quer dizer que a parte interessada na não monogamia deva se conformar em viver de uma maneira que não a satisfaz. Acho justo tentar o convencimento a partir de uma crítica à instituição e à naturalização da monogamia como única opção válida e/ou legítima para se viver o amor e as relações. Um diálogo sincero, respeitoso, que leve em consideração o sentimento do outre, pode surtir um efeito positivo. Se, ainda assim, as partes não chegarem a um consenso, não vejo como continuar essa relação sem que alguém não acabe frustrado, incomodado, subjugado em suas vontades/ necessidades.


- Acordos são necessários. Abrir uma relação não significa deixar de ter "regras" no relacionamento, até decidir não ter acordo já é um acordo que deve ser tomado por ambos. Ter um relacionamento não mono não é deixar de se importar com o/a outre e viver focado em seus desejos e vontades, é entender que, apesar de você amar e querer estar junto ao seu/sua parceire, o desejo e o afeto não são limitados e que viver mais de uma relação não implica negligenciar sua relação primária. Além disso, eu pessoalmente aconselho que os acordos sejam estabelecidos visando identificar os limites das pessoas envolvidas: eu posso aceitar que meu amor tenha um outro amor, mas posso preferir não conhecer ou ter contato com essa nova pessoa, ou então, pelo contrário, eu posso me sentir mais segura se souber quem é, se conhecer; eu posso não ver problemas em meu amor ficar com outras pessoas na minha frente pois entendo que é um exercício de sua liberdade que em nada irá me prejudicar ou eu posso não gostar de que isso aconteça por sentir ciúme ou qualquer outro tipo de incômodo; eu posso preferir ter prioridade com minha relação mais antiga por me sentir mais segura dessa forma ou posso não querer priorizar nenhuma relação por considerar que cada relação tem seu valor e não deve ser equiparada...enfim, as possibilidades de acordos são inúmeras e devem corresponder às necessidades específicas e particulares da relação em questão.


- As possibilidades e regras da relação valem para todos. Infelizmente tenho percebido que, com o aumento da divulgação do poliamor através das diversas mídias, muitos homens têm visto na ideia de um relacionamento não mono a oportunidade de "trair com consentimento". Serei bem clara e direta: se você, homem, quer poder ficar com "todo mundo", mas não concebe que sua parceira tenha essa mesma possibilidade, você não está falando de poliamor, você está usando o nome Poliamor (que é um modo de se relacionar que exige consensualidade e igualdade entre as partes) para exercer seu machismo. O Poliamor, a meu ver, deve servir para empoderar as mulheres em seus relacionamentos, que, via de regra, sempre foram mais favoráveis aos homens e não para submetê-las ainda mais a uma condição de servilismo.

Espero ter contribuído um pouquinho para a reflexão das pessoas que vieram me procurar por conta dessa questão. Se ainda assim, surgirem dúvidas, postem nos comentários que responderei assim que possível. :)

                           


quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Conselhos Poliamorosos


Em virtude da grande demanda por conselhos poliamorosos que surgiu, principalmente, depois da exibição do programa Amores Livres do qual eu e meus amores participamos, decidi "oficializar" essa minha atividade de conselheira. Entendo que isso seja importante por alguns motivos, os principais são: 1- Pessoas que gostariam de conversar, entender melhor sobre o tema, colocar suas dúvidas e buscar conselho e não sabem a quem ou onde encontrar quem os ajude; 2 -  Divulgação e desmistificação do Poliamor; 3 - Troca de experiências poliamorosas.

Nesse sentido, me proponho a responder e buscar ajudar a todas as pessoas que me procurarem pelo Blog. A ideia é que a pessoa (de forma anônima ou não) post sua dúvida ou pergunta e que eu responda de forma pública por aqui também a fim de ajudar outras pessoas que acessam o blog e que possam estar com problema parecido.

Caso isso não seja possível, fiquem à vontade também para me procurar no facebook e perguntar inbox (Sharlenn Carvalho), a partir da conversa, vou destacar a pergunta ou o problema principal e PEDIR à pessoa em questão se posso postar essa parte da conversa no blog juntamente com a minha resposta.

Espero que com essas resoluções o blog se torne mais dinâmico e útil para todos os Poliamoristas e simpatizantes. Uma boa também é seguir o blog para se manter atualizado! ;)
Conto com vocês para poder fazer ainda mais pelo movimento Poli! ^^
Perguntas, sugestões, dúvidas?


sexta-feira, 11 de setembro de 2015

#amoreslivres Episódio GNT



Escrevo hoje ainda inspirada pelo episódio de Amores Livres que foi ao ar nessa quarta, dia 09/009/15, do qual participei juntamente com alguns dos meus amores. Lembro de quando gravamos para o programa, acho que em outubro ou novembro do ano passado, foram alguns dias de gravação, muita afinidade com a equipe de produção, perguntas inteligentes, clima totalmente acolhedor e nada preconceituoso. Contudo, obviamente, eu tive receio do como as gravações seriam editadas, do passado não coincidir mais com o presente (e realmente não coincide) entre outras neuras. Porem, ao assistir o programa fiquei tão satisfeita! Sensação de dever cumprido, de "recado dado". Sim, me senti contemplada ao enxergar naquela Sharlenn, essa aqui, pessoa que ama, que sofre, que vive, que erra, acerta, mas que "dá a cara a tapa" quando se trata de defender seus ideais. 





Não sei o que as pessoas de fora da minha "bolha n mono" pensam a respeito, mas não é nenhum pouco fácil expor a vida dessa maneira, não é tranquilo defender publicamente algo ainda tão cheio de tabus e preconceitos no seio de uma sociedade hipócrita, patriarcal, machista e alienada como a nossa. Mas, eu realmente acho necessário que isso seja feito, não posso cobrar de ninguém que o faça e é por isso que eu mesma escolhi assumir esse papel. Não porque gosto de criar polêmica, porque quero "aparecer", porque sou uma "rebelde sem causa", mas porque idealizo uma sociedade em que o Amor possa realmente ser livre, idealizo uma sociedade em que nenhum modo de amar seja condenado, porque amor não é crime! Amar não é errado, amar mais de um, tampouco. Não entendendo como podem ver sentido em limitar e restringir algo tão belo e bom...Não entendo porque discriminar quem se permite, quem fica feliz com a felicidade de quem ama e é amado por um, por poucos, por muitos...




De qualquer forma, encaro o olhar do Outro mais uma vez, me exponho aqui e lá e aonde precisar para contribuir com uma visão mais clara e desmistificadora do Poliamor, para mostrar ao mundo que nós existimos e, independente da vontade alheia, somos felizes com nossa escolha, somos felizes sendo quem somos, sem hipocrisia, sem mentiras, sem culpa. 



Atualmente mantenho algumas relações estáveis e duráveis: um namoro de mais de quatro anos, outro de mais de dois, um noivado de quase um ano e a retomada de um outro amor que já se estende por anos também. E aproveito para esclarecer que não, não fico buscando colecionar relacionamentos - como já ouvi de alguns -, não, não me apaixono facilmente, não sou carente, não sou insegura. Eu simplesmente vivo desarmada, quando aparece alguém especial eu ME permito, não me escondo dos meus desejos e sentimentos, é só isso. 


Enfim, realmente acho que várias pessoas viveriam de forma muito mais satisfatória se também se permitissem mais, se se despissem dos pré-conceitos do senso comum, se olhassem com mais carinho para sua própria subjetividade e que lutassem para validar diferentes formas de amor.