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domingo, 2 de abril de 2017

OS ACORDOS NAS RELAÇÕES POLIAMOROSAS

Resolvi escrever este post, pois tenho visto muita gente desconsiderando ou mesmo maldizendo a necessidade de acordos nas relações poliamorosas. Bem, eu não sou detentora de nenhuma "verdade", mas venho aqui dar o meu pitaco sobre o assunto.
Para começo de conversa, acho muito pueril (e até prejudicial) a ideia de uma liberdade plena nas relações polis, primeiro porque não existe liberdade plena em nada, isso é uma utopia, uma idealização que não tem como ser concretizada (aliás, muitas pessoas defendem "liberdade" sem nem saber conceituá-la); segundo porque, querendo ou não, TODOS fomos educados e construídos em uma sociedade mononormativa e adepta do amor romântico, ou seja, muito do que sentimos - mesmo que já tenhamos desconstruído o pensamento - é ainda vinculado à essa cultura, e sentir diferente não é só questão de escolha, mas sim de uma vida de desconstrução e experiências positivas com um novo modelo de amor, de afetividade, de sexualidade, de relações interpessoais. Assim, o que tenho visto na prática acontecer com muitas pessoas é que, apesar da vontade de viverem o poliamor, se frustram por não conseguirem lidar com essa "liberdade liberal" que muitos pregam (mas poucos vivem de fato) e acabam voltando para a monogamia ou desistindo de estabelecerem qualquer tipo de relação profunda e estável.

Dessa forma, o que EU vejo como mais saudável e benéfico, é sim o estabelecimento de acordos que dêem conta do binômio necessidade X limite das pessoas envolvidas. A desconstrução de um parâmetro de amor e relacionamento que nos foi passado como correto e único desde sempre não será desfeito de uma hora para outra, nem tampouco apenas por "força de vontade". Como dito acima, é necessário SENTIR diferente. É necessário que estejamos confortáveis e "seguros" com nossas relações e assim vamos dando os passos rumo a uma ideia de amor e a um modo de relacionamento mais potencializador, agregador e libertário (não liberal), e é dessa maneira que os acordos vão se modificando e se tornando mais fluidos (não por obrigação, mas por fazer sentido dentro da experiência concreta) e talvez em algum momento possam até se tornar supérfluos (ou não, e tudo bem!). Se conseguirmos consolidar agora um caminho rumo a essa nova forma de sentir, pode ser que as próximas gerações jé cresçam em um mundo emocional e sexualmente mais saudável e libertário, mas tudo vai depender da forma como agimos agora.



E duas coisas muito importantes sobre isso a pontuar:
1- acordos PRECISAM ser consensuais, flexíveis e mutáveis: não devemos fazer acordos para permanecermos eternamente em nossa zona de conforto emocional, mas sim para avançarmos com cuidado e responsabilidade no desatamento de todos os laços mononormativos e do amor romântico.
2- Se identificar com o Poliamor não faz de ninguém mais "evoluído". Somos ainda as mesmas pessoas cheias de neuroses, conflitos internos, contradições e idealizações, apenas com desejo de viver o amor e as relações de outra maneira. E vamos ter que nos esforçar muito para alcançar nossos objetivos sem nos prejudicar ou prejudicar o outro.
Agora, se você quer viver sem nenhuma regra, responsabilidade afetiva ou comprometimento, é fácil: é só ser solteiro/a. Se de fato quer viver o Poliamor, bora entender o que é, buscar o autoconhecimento e muita determinação para desconstrução e diálogo permanentes com o(s) parceiro(s). ;)

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