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sábado, 8 de março de 2014

POR QUE SOU POLIAMORISTA?

Não entendo ser correto enxergar o Poliamor como sendo apenas uma “filosofia de vida”, ou mais uma forma entre tantas outras de relacionamento, tão válida quanto a monogamia ou outros modelos não monogâmicos. 

O Poliamor, por não ser um grupo, e sim, continuo afirmando, um fenômeno social, não possui uma ética própria, porém, a vivência poliamorsa (nos marcos do que tenho vivido, assistido e estudado) cria um conjunto de valores e emoções próprios. Nesse sentido, a situação é inversa ao que vemos em alguns grupos não monogâmicos (que não se entendem como poliamoristas) em que estes são ativos na produção de uma ética – valores e práxis – condizente com o objetivo que enxergam ser o mais apropriado para a felicidade humana. 

O Poliamor possui muitas formas Possíveis e prováveis de serem concretizadas. Mas, o fundamental, a meu ver, é a não exclusividade afetiva/sexual entre duas pessoas, a igualdade de possibilidade entre as partes envolvidas e mais... uma necessidade de desconstrução de valores, sentimentos, comportamentos pré-determinados socialmente. Não existe poliamorista que não questione – que não precise questionar – os valores e sentimentos advindos da monogamia. Se entender poli é necessariamente efetivar uma ruptura com os padrões aceitos e reivindicados socialmente pelo status quo: é necessário questionar a opressão de gênero, a família nuclear, sentimentos como ciúme, posse, é necessário questionar o próprio conceito de AMOR. 

No entanto, essas “marcas” não são conscientes em todos os polis. Inclusive, há os que as negam. De fato, é muito complicado viver em uma sociedade e ser contra a maioria dos valores que ela “prega” como corretos e verdadeiros. Entender que o machismo é uma opressão que afeta mulheres e homens em níveis “subconscientes” e que a igualdade de possibilidade entre as partes pressupõe uma luta constante contra essa opressão; compreender que sxs(s) parceirx(s) podem se relacionar com pessoas do mesmo sexo – por mais que você seja hetero, também é desconstruir a homofobia, lutar contra ela.

 Entender que o amor não se resume em uma fórmula pronta de “dois indivíduos do sexo oposto que se casam, têm filhos e são felizes para sempre” é ter que se perguntar "O que é o AMOR?" Se eu amo mais de uma pessoa, preciso entender que essas pessoas que amo também têm a possibilidade de amar outrxs sem deixar de me amar. É ter ciência que o amor não é finito (no sentido de que tem uma quantidade de amor a ser distribuída) e não é sinônimo de carência. E mais, se queremos a felicidade de quem amamos, é necessária uma reflexão sobre querer a felicidade de quem é amado por nosso amor. Ou não? Estaremos felizes com o sofrimento de quem amamos, precisamos para sermos felizes que a pessoa amada se restrinja “agora e para sempre” em amar e se relacionar afetiva/sexualmente com outrxs? Isso é amor? Ou...isso é Ego? 

Por tudo isso acredito que o Poliamor agrega pessoas, constrói formas novas de relacionamentos, não só entre as partes da “relação afetiva/sexual”, mas com os parceiros dos parceiros, com os amigos (que podem também serem parceiros sexuais ou não), com a família (que comporta inúmeros outros formatos que nao o da família nuclear e heteronormativa), com a sociedade. 

Sendo assim, é preciso perceber as implicações “morais”, políticas, religiosas, econômicas, jurídicas que esse fenômeno social – poliamor - acarreta. Continuar insistindo que é só mais um tipo de relação afetivo/sexual é não entender a complexidade da sociedade e as conseqüências que as relações acarretam em sua estruturação. A sociedade é feita de relações e todas elas trazem prejuízos ou benefícios para o todo. Estar em uma relação X é fazer parte, contribuir para a divulgação e consolidação de um modo X de sociedade

Não sou poliamorista apenas porque quero LIBERDADE para me envolver com quem e quando eu quiser (até porque não defendo uma liberdade irresponsável e liberal), sou poliamorista porque defendo uma sociedade onde haja comunhão, honestidade e solidariedade entre os indivíduos. Uma sociedade não opressora, não excludente. Uma sociedade em que os conceitos de amor, amizade, família, etc., sejam revistos e utilizados de forma que potencializem a existência humana em suas diversas esferas.


Sharlenn

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