CAP II: O QUE NÃO É POLIAMOR
É necessário enfatizar que, nem todo relacionamento não monogâmico é poliamoroso.
Pois, para ser poliamoroso, um relacionamento deve apresentar pelo menos três características básicas: a não exclusividade afetivo-sexual a dois, a consensualidade e a igualdade de
possibilidades entre todos os parceiros envolvidos. A partir dessas
informações, podemos assegurar que Poliamor não
é swingue, não é poligamia, não é relação sem vínculo, não é relacionamento aberto (RA), e,
definitivamente não é traição.
Por outro lado, não devemos identificar
poliamor com uma relação que exija necessariamente, amor. O fundamento dos
relacionamentos poliamorosos é a possibilidade, não a exigência. Esse fato se
traduz na prática, através da possibilidade de um indivíduo que se entenda
fundamentalmente poliamorista, acabe tendo apenas, por um período mais ou menos
longo de tempo, relações baseadas na atração sexual e/ou na amizade. Ou então,
pode ser que esse mesmo indivíduo tenha apenas uma única relação afetiva
estável por anos, mantendo, concomitantemente, relações sexuais casuais com
outras pessoas. Mas, em todas essas situações, esse indivíduo terá sempre a
possibilidade aberta de envolvimento afetivo com outra (s) pessoa (s).
Mais um fundamento é a consensualidade. Isso quer dizer que todos os envolvidos devem estar cientes e de acordo com o tipo de relacionamento em que estão envolvidos. Ou seja, não é possível chamar de poliamor uma relação que é teoricamente fechada, mas em que uma das partes "pula a cerca", mantendo um relacionamento extra-conjugal.
Outro fundamento das relações poliamorosas é a
igualdade entre os parceiros. Não há diferença de gênero ou hierarquia de uma
parte sobre a outra. Ou seja, todos os parceiros envolvidos possuem a mesma
possibilidade de manter vínculos sexuais e/ou afetivos com outras pessoas.
Porém, importante destacar: a igualdade está sempre na possibilidade. Se uma
das partes mantém um relacionamento estável afetivo com mais duas pessoas, essas
pessoas não têm a necessariedade de manter a mesma quantidade nem o mesmo
formato de relacionamentos (a não ser que haja um acordo nesse sentido entre as
partes envolvidas).
Assim, respeitando-se esses três critérios,
vemos nascer uma infinidade de formatos possíveis de relacionamentos poliamorosos.
Formatos que têm se originado através das necessidades individuais, de acordos
que atendem às especificidades de cada relação, da prática concreta. O que percebemos
frequentemente é que muitos já viviam o poliamor ou se entendiam poliamoristas sem que tivessem tido qualquer conhecimento do termo.
O poliamorista é aquele que reconhece a
possibilidade de amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo, ele reconhece essa
possibilidade para si e para os outros. Porém, reconhecer a realidade de que é
possível amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo e não permitir tal
possibilidade ao parceiro, ou então, desejar ter múltiplos envolvimentos
sexuais, mas não abrir a possibilidade para relações afetivas, não se configura
Poliamor.
Outro engano muito comum é achar que os
polis são pessoas que estão sempre à procura de sexo ou de novos
relacionamentos, que estão sempre disponíveis, que não possuem critérios de
escolha para parceiros sexuais ou afetivo/sexuais. A necessidade de sexo ou de
relacionamentos mais profundos varia de indivíduo para indivíduo – e isso não é
exclusividade dos polis – pessoas diferentes têm necessidades afetivas e
sexuais diferentes e isso independe de serem polis ou não. Tal fato é muito
evidente quando observamos a realidade poliamorosa brasileira, pois a maioria
dos relacionamentos polis que temos contato, são relacionamento estáveis de
vários anos e, não raro, com filhos.
Talvez esse fato também desmonte a concepção do
leigo de que os laços entre os parceiros poliamoristas sejam menos estáveis,
menos sólidos. O poliamorista não é aquele que não quer manter vínculos
profundos e estáveis, pelo contrário, muitas vezes, o indivíduo poli é o que
sente necessidade de ter mais relacionamentos estáveis e afetivos.
Apesar do que dissemos acima, existem estudos
que apontam a questão da liberdade como uma característica basilar dos
poliamoristas brasileiros. Contudo, ao compararmos a questão da liberdade à
nossa experiência no âmbito poli, chegamos à conclusão de que a liberdade de
que se fala não está em oposição à estabilidade nos relacionamentos. Liberdade
não como falta de comprometimento ou mesmo, falta de regras: não é fazer o que
quiser do jeito que desejar; liberdade poli, como temos podido averiguar é a
não posse, a ausência de culpa, a liberdade de possibilidades. Obviamente que,
pessoas diferentes, entendem e vivem a liberdade de modos diferentes, porém, ao
que tudo indica, não há, entre a maioria dos polis de nosso convívio, uma falta
de preocupação ou cuidado com o outro, não há falta de estrutura ou
organicidade nas relações. Desse modo, enfatizamos que, ser poliamorista não é
sinônimo de egoísmo ou egocentrismo, na realidade, como veremos adiante, a
moral poli tende para o contrário disso.
Sharlenn
esclareceu muito pra mim! adorei.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirFico feliz em conseguir ajudar de alguma forma. ^^
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