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domingo, 9 de março de 2014

Um trecho do livro sobre POLIAMOR que estou concluindo...


CAP II: O QUE NÃO É POLIAMOR

É necessário enfatizar que, nem todo relacionamento não monogâmico é poliamoroso. Pois, para ser poliamoroso, um relacionamento deve apresentar pelo menos três características básicas: a não exclusividade afetivo-sexual a dois, a consensualidade e a igualdade de possibilidades entre todos os parceiros envolvidos. A partir dessas informações, podemos assegurar que Poliamor não é swingue, não é poligamia, não é relação sem vínculo, não é relacionamento aberto (RA), e, definitivamente não é traição.

Por outro lado, não devemos identificar poliamor com uma relação que exija necessariamente, amor. O fundamento dos relacionamentos poliamorosos é a possibilidade, não a exigência. Esse fato se traduz na prática, através da possibilidade de um indivíduo que se entenda fundamentalmente poliamorista, acabe tendo apenas, por um período mais ou menos longo de tempo, relações baseadas na atração sexual e/ou na amizade. Ou então, pode ser que esse mesmo indivíduo tenha apenas uma única relação afetiva estável por anos, mantendo, concomitantemente, relações sexuais casuais com outras pessoas. Mas, em todas essas situações, esse indivíduo terá sempre a possibilidade aberta de envolvimento afetivo com outra (s) pessoa (s).

Mais um fundamento é a consensualidade. Isso quer dizer que todos os envolvidos devem estar cientes e de acordo com o tipo de relacionamento em que estão envolvidos. Ou seja, não é possível chamar de poliamor uma relação que é teoricamente fechada, mas em que uma das partes "pula a cerca", mantendo um relacionamento extra-conjugal.

Outro fundamento das relações poliamorosas é a igualdade entre os parceiros. Não há diferença de gênero ou hierarquia de uma parte sobre a outra. Ou seja, todos os parceiros envolvidos possuem a mesma possibilidade de manter vínculos sexuais e/ou afetivos com outras pessoas. Porém, importante destacar: a igualdade está sempre na possibilidade. Se uma das partes mantém um relacionamento estável afetivo com mais duas pessoas, essas pessoas não têm a necessariedade de manter a mesma quantidade nem o mesmo formato de relacionamentos (a não ser que haja um acordo nesse sentido entre as partes envolvidas).

Assim, respeitando-se esses três critérios, vemos nascer uma infinidade de formatos possíveis de relacionamentos poliamorosos. Formatos que têm se originado através das necessidades individuais, de acordos que atendem às especificidades de cada relação, da prática concreta. O que percebemos frequentemente é que muitos já viviam o poliamor ou se entendiam poliamoristas sem que tivessem tido qualquer conhecimento do termo.

O poliamorista é aquele que reconhece a possibilidade de amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo, ele reconhece essa possibilidade para si e para os outros. Porém, reconhecer a realidade de que é possível amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo e não permitir tal possibilidade ao parceiro, ou então, desejar ter múltiplos envolvimentos sexuais, mas não abrir a possibilidade para relações afetivas, não se configura Poliamor.

Outro engano muito comum é achar que os polis são pessoas que estão sempre à procura de sexo ou de novos relacionamentos, que estão sempre disponíveis, que não possuem critérios de escolha para parceiros sexuais ou afetivo/sexuais. A necessidade de sexo ou de relacionamentos mais profundos varia de indivíduo para indivíduo – e isso não é exclusividade dos polis – pessoas diferentes têm necessidades afetivas e sexuais diferentes e isso independe de serem polis ou não. Tal fato é muito evidente quando observamos a realidade poliamorosa brasileira, pois a maioria dos relacionamentos polis que temos contato, são relacionamento estáveis de vários anos e, não raro, com filhos.

Talvez esse fato também desmonte a concepção do leigo de que os laços entre os parceiros poliamoristas sejam menos estáveis, menos sólidos. O poliamorista não é aquele que não quer manter vínculos profundos e estáveis, pelo contrário, muitas vezes, o indivíduo poli é o que sente necessidade de ter mais relacionamentos estáveis e afetivos.

Apesar do que dissemos acima, existem estudos que apontam a questão da liberdade como uma característica basilar dos poliamoristas brasileiros. Contudo, ao compararmos a questão da liberdade à nossa experiência no âmbito poli, chegamos à conclusão de que a liberdade de que se fala não está em oposição à estabilidade nos relacionamentos. Liberdade não como falta de comprometimento ou mesmo, falta de regras: não é fazer o que quiser do jeito que desejar; liberdade poli, como temos podido averiguar é a não posse, a ausência de culpa, a liberdade de possibilidades. Obviamente que, pessoas diferentes, entendem e vivem a liberdade de modos diferentes, porém, ao que tudo indica, não há, entre a maioria dos polis de nosso convívio, uma falta de preocupação ou cuidado com o outro, não há falta de estrutura ou organicidade nas relações. Desse modo, enfatizamos que, ser poliamorista não é sinônimo de egoísmo ou egocentrismo, na realidade, como veremos adiante, a moral poli tende para o contrário disso.

Sharlenn
            

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