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terça-feira, 18 de março de 2014

Sem máscaras!

Hoje tive vontade de escrever sobre as dificuldades de viver sendo quem "escolhi" ser... no seio de uma sociedade patriarcal, machista, capitalista, preconceituosa, alienada!

Me assumir poli não foi fácil...venho de Petrópolis, uma sociedade provinciana e conservadora, venho de uma família "tradicional" petropolitana... , fui casada por vários anos nos moldes monogâmicos, tenho uma filha pequena desse casamento, sou professora de adolescentes. Para "piorar" meu estigma, sou atéia, socialista, rockeira - qualidades não muito apreciadas pela grande massa, menos ainda por minha família, colegas de trabalho, etc, etc.

Bem, na verdade não foi tranquilo me entender e nem me assumir como nenhuma dessas coisas. Passei por crises existenciais até conseguir me permitir ser quem "sou".  Mas, quando falamos por aí: "sou atéia", "sou socialista", "sou rockeira", as pessoas têm mais ou menos uma ideia do que estamos falando e, mesmo que não gostem, já se habituaram com a existência desses "tipos estranhos". Mas quando afirmamos sou POLIAMORISTA, oh...as pessoas ficam sem reação, nem entendem o que essa palavra significa, mas, geralmente deduzem que é algo muito ruim, pervertido..."poligamia?" "Ela é fácil, fica com qualquer um?" "Ela pratica a sexualidade de formas bizarras?" E por aí vai... Por mais que expliquemos que não existe natureza ou essência humana e, portanto, que a monogamia humana é simplesmente cultural (que, inclusive atende a interesses político/econômicos específicos na sociedade de hoje...) e que ser poliamorista, para mim, nada mais é do que não entender a exclusividade afetiva/sexual, o ciúme, o controle do outro, a posse, o "amor romântico" (idealizar que uma pessoa pode te completar e que serão felizes ad infinitum), a insegurança (medo de ser trocadx), a auto-repressão e a repressão imposta ao parceirx para não sentir desejo ou se apaixonar por outrx(s) [e todas as consequencias políticas implicadas nisso] como algo positivo. Obviamente estou simplificando, mas, em linhas gerais, ser poliamorista é se permitir e permitir a quem ama, o AMOR (em todas as suas formas). O que tem de errado nisso?

Para o senso comum há algo de muito errado (que eles não conseguem explicar bem o que seja), para os religiosos em geral (principalmente cristãos) estamos condenados ao inferno (tsc, tsc, tsc...parece que nem leram a Bíblia, enfim....), para o Direito...há controvérsias no direito brasileiro, mas ainda é crime a bigamia (ser casadx com duas pessoas) então..., para o "sistema" somos um erro que deve ser eliminado (é assim mesmo que me sinto!) pois, fazer swing, ter relações abertas (com exclusividade afetiva!), traição (principalmente quando exercida por homens), tudo bem... essas práticas, desde que mantidas de forma "privada", sigilosa, não representam risco algum ao status quo, o capitalismo já até conseguiu inúmeras formas de lucrar com essa sexualidade que, por ser reprimida, se manifesta em algum momento, de alguma forma... então temos as casas de swing, as revistas masculinas, os vídeos pornográficos, as "acompanhantes de luxo", as festas "safadinhas", etc. Porém, AMAR e se relacionar PUBLICAMENTE com mais de uma pessoa... AÍ NÃO! Isso já é "baixaria", "promiscuidade", "safadeza"...Oh! Rompemos a barreira da "moral e dos bons costumes"?  Estamos "profanando" a Igreja e a família? Incentivando o sexo na amizade??? NÃO! E a propriedade privada, como fica?? E a competição entre as pessoas?? Vamos acabar com as idealizações do "amor perfeito"? Da "família perfeita"? É...realmente um absurdo! 

Mas eu, devido a algum defeito na hora da "formatação social", me tornei crítica e, portanto, SEMPRE "do contra". Perto dos trinta, resolvi deixar as "máscaras" para trás e percorrer a longa trajetória de "se tornar quem se é". E, sim, com consciência e tranquilidade que repito: sou POLIAMORISTA! Não é fácil ouvir de todos os lados que você é egoísta (pois eu deveria me preocupar em não constranger minha família, por ex.), que você é "fácil" e fica "com qualquer um", que você não se dá ao respeito (hein?!), e ainda que você é uma péssima influência... ter que provar na justiça que você não deixa de ser uma boa mãe (na verdade, sou uma excelente mãe!), ter que provar no trabalho que suas opções afetivas, sexuais, etc., não interferem em nada na sua competência. 

Pois é, mas eu amo mais de uma pessoa e adoro ter a tranqüilidade e a liberdade de pensar e falar isso! Adoro não viver mais na hipocrisia, adoro ter me desfeito das máscaras "socialmente aceitas". E gostaria muito que o mundo deixasse de ser tão hostil, que as pessoas deixassem de ser tão babacas e/ou alienadas. 

Como Sartre já dizia (e os Titãs concordaram) "o inferno são os outros!"

Sharlenn

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